
pautas sociais
E aí meus precarizadinhos, como cês tão? To de volta, mas dessa vez sem piadinhas, hoje é dia de falar de coisa séria (quem eu quero enganar, vai ter piadoca sim, é mais forte do que eu). Vamo lá, é muito comum que diversas séries, filmes, livros, músicas (vai me dizer que seu professor de filosofia nunca mandou você ver Matrix?), seja lá o que for abordem temas socialmente relevantes, ou que te façam refletir sobre como encaramos a vida e nossa sociedade, e apesar dos diversos problemas existentes no meio social japonês, eles também dão umas bolas dentro e trazem boas discussões pra mesa.
ATENÇÃO PESSOAL!
Como isso aqui não é uma várzea completa, vamo conversar um pouco sobre a importância disso, ainda mais porque somos brasileiros, um país extremamente grande e plural, mas que tem sim diversos problemas, como racismo, homofobia, desigualdade social, violência urbana, uma grande degradação do meio ambiente, e muitos outros, em diversas escalas diferentes, e às vezes enxergar isso através de produtos culturais pode ajudar a mudarmos algumas práticas negativas na vida real (as vezes eu até pareço uma pessoa séria falando né?).
Agora vamos tirar a poeira desse teu cérebro aí e ver quais animes eu tenho pra recomendar pra vocês que falem sobre alguns assuntos importantes!! CALMA LA QUE TEM MAIS UMA OBSERVAÇÃO.
Muitas obras podem ter um impacto e interpretação diferentes, justamente por estarmos em um contexto social único do nosso país, podendo levar a uma visão discordante da intenção original das pessoas que produziram essas obras, então isso por si só já muda nossa forma de absorver esses produtos ( e eu nem to falando das diferenças entre pessoas do sul e do norte do Brasil por exemplo, mas você entendeu o que quis dizer!).
Planet Survival *(2003, 7.74 de 10, sem distribuição oficial)

A princípio você pode pensar que é só mais um slice of life com um bando de adolecente perdido em um planeta desconhecido precisando sobreviver (até porque tá no TÍTULO da bagaça né?), mas além de acompanhar o desenvolvimento do grupo como um todo e das relações e amadurecimento dos personagens (que é muito bom viu?), a gente também observa como eles vão se conectando aquele lugar, e aprendendo a viver de maneira mais coesa e equilibrada com o planeta, totalmente de como era a sociedade em que eles estavam inseridos anteriormente (que já era um futuro da que nós vivemos).
Sério, a partir de um ponto da trama (SPOILER ALERT!! não quero ver uma alma aí dizendo que não avisei) o planeta começa a enfrentar alguns problemas, e isso passa a acontecer justamente depois que eles encontram um alienzinho (que coisinha mais FOFINHA CUTE CUTE MEUDEUZO), e a partir desse ponto um bando de pirralho tem um pirralhinho pra cuidar e começam a descobrir o motivo do baby alien estar ali congelado… e o motivo é basicamente o seguinte FIZERAM O PLANETA DE TODYNHO E SUGARAM TUDO ATÉ NÃO TER MAIS NADA PRA EXPLORAR, e isso não tem nada a ver com a nossa terra, com iceberg derretendo, enchentes malucas e secas severas no Acre ou gente morrendo de calor no Reino Unido, imagina gente, tudo coincidência né? EU ACHO QUE NÃO!!!
É rapaz como já ouvi falar internet afora enquanto pesquisava sobre esse anime, o grupo da CAMARADA LUNA (obrigado canal qualquer coisa pela piadoca) é bem direto nas críticas que eles fazem durante todo o percurso sobre diversas situações apresentadas ( eu juro que o filho do operário salva o filho do patrão em uma cena, SÓ NÃO VÊ QUEM NÃO QUER!!!!).
Piadas à parte, o anime é um show a parte sobre ecologia e sobre conflitos entre pessoas, onde muitas vezes nem tem alguém errado na história, mas que decisões precisam ser tomadas. E tudo isso lá em 2003, a mais de 20 anos atrás (não é atoa que o anime passava no canal NHK Educational TV, que faz parte da estatal japonesa NHK). Vale dizer também que além de todo o ponto de vista ecológico, o amadurecimento e dilemas morais que existem aqui com o grupo como um todo é MARAVILHOSO, e foi o que me fisgou e fez eu ir até o final pra tomar a lacrada ecológica. Só uma coisa, presta atenção em mim aqui UM SEGUNDO… esse anime (e alguns outros) dessa lista NÃO TEM DISTRIBUIÇÃO OFICIAL, ou simplesmente eu não consegui achar, então não me pergunte onde ver, você sabe muito bem o que fazer.
Koe no Katachi *(2016, 8,94 de 10, sem distribuição oficial)
ALERTA DE GATILHO RAPEIZE. apesar do foco aqui ser o bullying, existe um personagem depressivo aqui, e tem diversas atitudes que ele toma, assim como situações que passa, que podem desencadear emoções ruins em você coleguinha, então por favor, cuidado ao assistir, veja no seu próprio ritmo e caso não se sinta confortável, pode parar ver, não tem problema, de verdade (E FAÇA TERAPIA SE POSSÍVEL!!)
Esse aqui é pra você que fica zoando o coleguinha por ser diferente, assiste isso e presta atenção em como você vai crescer traumatizado sendo uma vergonha pra sua família.
Okay, talvez eu tenha pegado um pouco pesado agora, mas você cria um sentimento negativo muito grande vendo o que o protagonista desse filme faz com a colega de classe que é deficiente auditiva, e isso vai crescendo e crescendo, até você descobrir que ele está replicando comportamento PORQUE O MALDITO TAMBÉM SOFRIA BULLYING ANTES.
Sério, eu nunca passei tanto pano na vida pra alguém que fez bullying como nesse filme, eu chorei feito criança a primeira vez que assistir, ninguém me disse sobre o que era, só ouvi falar sobre e depois a desidratação veio forte!
Às vezes entender a trajetória de alguém é muito importante pra que suas atitudes e ações tenham um contexto maior. O garoto ficou tão traumatizado quando entendeu toda a relação de poder que era exercida sobre ele, e que ele replicou depois (como é que Paulo Freire fala mesmo??) junto com os problemas de casa, que ele realmente tentou se redimir depois de reencontrar a garota.
É lindo ver a forma como ele se dedica e se esforça a cada instante, tentando mostrar que ele é alguém melhor agora e como ele mudou, e realmente dá pra notar essa evolução no personagem, ao mesmo tempo que custou muito (ganhou vários probleminhas psicológicos de brinde).
Acho que todo mundo devia assistir Voice of Silence uma vez na vida ao menos (a vai, é só um filminho de 2h9m), com uma caixinha de lencinhos do lado, por favor, não vamos ficar ranhentos e limpar na roupa né?

Sakura Card Captors *(1998, 8.1 de 10, sem distribuição oficial)

Eu sei, o clima ficou meio pesado no último, mas vamos falar de algo mais leve e bonitinho agora! Esse aqui é bastante conhecido por aqui, já que passou na tv aberta, e fazia todo mundo, as garotas que eram o público alvo, e os meninos também, ficarem grudados na frente da televisão pra ver qual a carta clow da semana (não precisa mentir, eu sei que você cantava “EU SÓ QUEEEEERO, E ESPEEEEERO, TER PRA SEEEMPRE, VOCÊ JUNTO A MIM”, na frente da tela, a abertura era realmente ótima).
Ta, mas fala pra mim que você nunca percebeu que a amiga da Sakura era totalmente caidinha por ela e que o Shoran só aparece pra não causar com a família tradicional japonesa? OKAY OKAY, parei de piadinha, falando sério. Olha bem a relação do irmão da Sakura, Touya e o seu “MELHOR AMIGO” Yukito, você acha que eles ficam pra cima e pra baixo juntos, e se trancam no quarto pra que? ficar batendo figurinha ou jogando vídeo game? sejamos sinceros vai, eles eram um casal fofíssimo, e acho que muitas pessoas só não percebiam isso devido a inocência da infância, tanto que nem a própria Sakura não percebe, chegamos ao cúmulo dela estar chegando super tarde da noite em casa, em cima de uma árvore e o Yukito ta saindo da casa dela E QUEM FICA INDIGNADO É ELE, como assim garoto, porque cê tá saindo da minha casa de madrugada e quem reclama da situação é você? SE MANQUE!!
Vale destacar que o irmão da protagonista é bissexual, pois é mostrado na obra, durante um momento de viagem no tempo, que ele ja teve uma relação anteriormente com uma mulher, e que Yukito na verdade não tem um genero definido, já que ele na realidade é uma entidade mágica que ESCOLHE se mostrar para humanos como um homem, pois se sente mais confortavel assim! (bem a frente de sua época trazendo questões de gênero, não?!)
Mas sério, que relacionamento saudável, eles se ajudam um bocado pelo que dá pra ver, se gostam e respeitam muito, e até fazem bolo de morango juntos em um episódio, me diz se você quer alguma outra coisa em um relacionamento? eu estaria completamente satisfeito, é uma representação muito singela mas muito real, é lindo de se ver!!
The Promised Neverland (2019, 4.5 de 5, Netflix e Crunchyroll)
Eu posso não estar falando tanto do aspecto técnico dos animes dessa lista, mas esse aqui merece, CARAMBA QUE COISINHA MAIS BONITA, principalmente se lembrarmos que é um anime semanal, que ia pra televisão como qualquer outro (Koe no Katachi por exemplo foi produzido para o cinema).Você começa a assistir isso com uma energia, meio UAL, que legal crianças vivendo em um orfanato super legal, elas parecem super bem e felizes (quer dizer, o máximo que dá pra estar bem e feliz em um ORFANATO).
Vendo o trio de protagonistas investigando pequenas pistas esquisitas dentro do local, percebendo coincidências entre as pessoas que estão sendo adotadas por exemplo ( e não a coincidência não é que todas são orfãs Sherlock Holmes da Shopee), no meio disso as responsáveis pelas crianças tomam atitudes no mínimo estranhas e vai entrando cada vez mais um clima de investigação, que é ótimo!! e eu juro que elas não tem aquele ar de criança chata super inteligente e insuportável, eles conseguem dar uma justificativa para isso que torna tudo um pouco mais crível.
Até que a trama vai andando e CATAPIMBAS, você descobre na verdade que aquilo ali não é um orfanato e sim uma FAZENDA, É ISSO AÍ AS CRIANÇAS SÃO GADO pra umas criaturas bizarras. O bife que tá aí no seu prato não parece mais tão apetitoso assim né?
Durante a série é possível ver várias coisas meio “estranhas” que o grupo de protagonistas vai encontrando, aumentando a tensão e preocupação que sentimos com eles. Mas será que se fossem porquinhos você ia estar com a mesma dó? CLARO QUE NÃO NÉ, CÊ TÁ PENSANDO NO BACON DO TEU LANCHE QUE EU SEI.
E okay, eu mesmo não tenho nadinha de dó dos bichinhos criados em cativeiro, feitos justamente para que a gente possa se alimentar, mas será mesmo que todos são tratados com o MÍNIMO de respeito com a outra vida? é a gente sabe que não né? mas que tal a gente esquecer tudo isso e ir fazer um churrascão???

Carole and Tuesday *(2019, 7.86 de 10, Netflix)

Sim, isso aqui é um musical, e eu vou defendê-lo com todas as minhas forças!! A animação é lindíssima e conta a história de duas garotas, Carole e Tuesday (aaaaaaah mas não me diga??) que sonham em viver de música um dia.
A partir da amizade entre as duas personagens somos confrontados por alguns problemas envolvendo a migração de pessoas da Terra para Marte, onde se passa a história, envolvendo xenofobia com os terráqueos (o que é no mínimo engraçado porque de onde será que essa galera veio em???), famílias que foram separadas e com um discurso bem elitista aparecendo na “vilã” da série.
Além disso, as músicas são todas originais, e muito boas por sinal (tenho uma playlist até hoje com a trilha sonora!!), o interessante é que você vai sendo guiado pela carreira das garotas durante metade da obra, e quando tudo começa a dar certo e você sente que o final da obra está chegando, vem toda uma reviravolta, mudando até mesmo um pouco do rumo do enredo.
Sério, eles tentam deixar tudo muito claro através das letras e nomes das músicas, mas sem ficar (muito) brega (eu admito que fica um pouquinho, mas fazer o que se eu sou meio brega mesmo?), fora que pra deixar tudo mais explícito, a última música, que fecha o enredo, tem uma pegada fortíssima de We are the World, ficando uma ótima referência e é super divertido ver todos os artistas que as meninas encontraram até aqui juntos.
Vale lembrar que além dessa abordagem social feita em cima dos problemas envolvendo migração e xenofobia (acho que talvez esse anime não tenha feito muito sucesso na Europa), eles fazem ótimos apontamentos sobre a mercantilização da arte, com um certo personagem chegando até mesmo a desvalorizar os intérpretes humanos e afirmando que qualquer música que fizerem de maneira orgânica não vai superar as suas produções feitas com base nas estatisticas e inteligencia artificial (o maldito não previu mesmo o futuro???), e obviamente ele é refutado ao longo da obra pelas nossas meninas.
Eu garanto que você vai dar boas risadas com algumas apresentações, se emocionar com outras e com certeza alguma vai te marcar para além do anime em si.
One Piece (1999, 4.9 de 5, Netflix e Crunchyroll)
Esse aqui era óbvio que iria aparecer!! Já tendo passado dos mil episódios, a saga do pirata que estica aborda diversos temas importantes, seja de forma direta ou indireta.
Seja o racismo com os homens peixes (o que é muito engraçado, porque você pode parecer um animal, se esticar, ter um tamanho extremamente anormal, que tá tudo bem, mas morar na água e parecer um peixe aí o povo fica NOOOOOOSSA ISSO NÃO PODE, vai entender né?), a presença de Ivankov, um personagem não binário e que se monta como um travesti, tendo papel de destaque durante parte da trama, nas incursões realizadas em Alabasta, onde um governo absolutista fazia sua população sofrer e até mesmo morrer por falta de água, condena ataques feitos com armas químicas, representado pelo personagem Ceasar Clow (Ó O GAAAAAAAAAS), combate a corrupção da marinha (entenda como governo de maneira geral) e eu poderia passar horas e horas listando situações do tipo.
Esses atos são em grande parte consequências da personalidade do protagonista da obra, Monkey D. Luffy, que busca sua liberdade e felicidade acima de tudo, mas não só a dele, como também das outras pessoas e pra isso o caipira de borracha acaba sendo muito disruptivo e enfrentando (quase sempre na base DA PORRADA), todos esses problemas e questões sociais. Uma pena que parte dos fãs da obra nem percebem isso (pelo amor do que seja lá que esteja no céu, não seja essa pessoa, você tem um cérebro, usa ele, não deixa parado de enfeite não)

Kino no Tabi (2003 e 2017, 4.7 de 5, Cunchyroll)

Esse aqui eu não conhecia até começar a pesquisar pra escrever esse texto, e foi uma festa surpresa!!
Acompanhar a protagonista Kino, junto com sua moto falante (é, não podia ser nada muito normal pra ter me agradado e entrado na lista), enquanto fazem suas viagens por diversos países fictícios é extremamente divertido.
A série é episódica então é super gostoso sentar, assistir um capítulo e pensar sobre. E porque você ficaria pensando demais sobre uma série sobre uma garota e sua moto que fala (mesmo sem ter boca)? Bom, cada país tem suas peculiaridades que te fazem pensar sobre o valor da vida, as relações com outras pessoas e com o viver social e tudo mais.
O primeiro lugar a ser visitado é um país onde matar pessoas não é PROIBIDO (se atente a isso POR FAVOR, minha cabeça explodiu no fim desses 20 minutos), e com isso é possível se ver em meio a inúmeros dilemas morais, e sobre como a população daquele lugar lida com isso, até porque é perceptível que apesar desse absurdo completo, é um país extremamente seguro, e eu juro que não vai parecer uma apologia a termos uma população armada nem nada disso, apesar da metáfora ser meio extrema, ela é super prática pra se fazer entender (tem muita coisa meio “extrema” ao longo da série pra falar a verdade!!).
Eu poderia falar sobre cada um dos locais visitados por Kino, mas isso poderia acabar com tua experiência, então bom, se quiser ver algo bonito e que te vai fazer refletir, acho uma ótima pedida!!
Vale lembrar que a obra tem duas versões, mas que apenas três histórias se repetem, então vale a pena conferir as duas!! A mais antiga tem uma fotografia melhor, apesar de claramente não ter uma animação tão bem cuidada quanto a segunda.
Vai ser uma ótima chance de tirar as teias das engrenagens desse cérebro velho que só fica vendo anime de lutinha!!!
Kakegurui (2017, 8.6 de 10, Netflix)
Se a camarada Luna não foi o suficiente pra você me chamar de esquerdinha safado la em cima quando falei de Planet Survival, agora não vai ter escapatória, até porque, o que pode ser uma crítica mais clara ao capitalismo do que uma escola em que pessoas apostam até a loucura por dinheiro e poder (sim, eu roubei a frase de efeito da protagonista, Yumeko Jabami).
Okay, sério isso aqui parece que foi feito com apenas dois objetivos, atrair o nerdola adolescente que tá começando a conhecer seu próprio corpo, se é que você me entende, com seus visuais EXTREMAMENTE APELATIVOS (japonese hipersexualizando ADOLECENTES… infelizmente isso não me surpreende viu?), de verdade, se der pra ignorar o design das personagens tem algo muito legal aqui (ou se preferir pode ir ver a versão live action, que é um “menos pior”), e o segundo objetivo era tornar qualquer um que veja isso aqui e tenha dois de QI pra pegar o sub-texto em um comunista, porque viver naquele lugar deve ser horrível.
Tá bem, talvez eu tenha exagerado, mas olha bem como a competição naquele ambiente é extremamente selvagem e as pessoas são escanteadas e tratadas piores que animais pela falta de capital, ou habilidades que poderiam ser oferecidas em troca de algo. Ou como as pessoas com mais dinheiro, capital social, ou apenas habilidade pura pra subjugar as pessoas em volta são glorificadas e tratadas como verdadeiros deuses naquele lugar.
Se tem uma algo que você não vai ver com essa série são memes com o pernalonga comunista, tem momentos que chegou a me incomodar bastante de tão pesado e cru que o capitalismo é mostrado (apesar de a série ter um bom humor até, mas com dois de QI dá pra perceber a mão perversa do capital agindo em tudo). E bom, se você gostou da outra lista de recomendações, Kakegurui tem uma pegada de competição bem forte nos seus episódios e realmente é bem instigante acompanhar tudo, as vezes me peguei na ponta da cadeira tenso por não conseguir saber quem iria ganhar cada uma das competições!
