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Neon genesis evangelion

A obra de Hideaki Anno foi um marco da animação japonesa nos anos 90, mas além dos mechas gigantes e tema que envolve a proteção da terra, algo recorrente abordado é a psicologia. Quer entender mais sobre isso? Vem comigo! 

E ai seus “preciso de terapia mas não vou”, como cês tão? Se eu te falar que um psiquiatra austriaco que dopava seus pacientes é uma grande influência pro surgimento de um dos animes mais importantes dos anos 90 você poderia até dar uma risadinha da minha cara, só que, por mais absurdo que possa parecer, isso é completamente verdade!!

Hoje é dia de aprender, porque dá sim pra tirar muita coisa interessante dos animes que você assiste, a não ser que você seja o tipo de pessoa que fala “ah, mas não tem política em Star Wars”, se você for assim, por favor meu filho, VOLTE PRAS AULAS DE INTERPRETAÇÃO DE TEXTO.


Okay, desabafo feito, vamos lá! É bem provável que você já tenha ouvido falar sobre Neon Genesis Evangelion nessa vida de otakinho por aí, certo? Eu te garanto que esse anime vai muito além de robôs gigantes se estapeando no meio do Japão.
O nosso protagonista Shinji Ikari, é um transtorninho ambulante, e observar ele, assim como outros personagens do anime, pode sim te fazer aprender bastante coisa ou ao menos refletir sobre esses problemas (e talvez te tornar mais empático com o coleguinha que pode estar passando por isso).

 

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atenção!

Lembrando que, tudo o que vai ser dito aqui não foi tirado do além, é uma análise do conteúdo do anime (o de 1995 apenas, os filmes, spin-offs e OVAs estão sendo DESCONSIDERADOS, não me venha encher o saco com isso depois sendo que eu avisei em?), juntamente com muita pesquisa e com CONSULTA a profissionais da psicologia que já estudaram sobre a obra. Agora pega um salgadinho e um refri que esse texto aqui vai ficar longo pra caramba!! ( já colocou a terapia em dia?).

Antes de qualquer coisa, pra quem não viu, ou não conhece Evangelion, o anime se iniciou em 4 de outubro de 1995, então por favor peguem leve com a animação, que pode não ser das melhores se comparada com algumas coisas de hoje em dia (mas eu absolutamente adoro o estilo usado aqui!). Eu vou deixar uma breve sinopse, que está disponível no site da JBC (patrocina nóis), empresa que traz o mangá para o Brasil atualmente (eu sei, eu acabei de falar que eles são obras diferentes, mas a premissa é a mesma então ela também funciona pra animação).

Evangelion se passa em 2015, em um mundo que acabara de ser reconstruído após a dizimação de metade da humanidade na catástrofe que ficou conhecida como “Segundo Impacto”. O Japão ganha uma capital provisória, a Tokyo-2, cujo Governo promove a construção da futura capital denominada Tokyo-3. Mas a construção da nova metrópole serve apenas de fachada para erguer uma cidade-fortaleza com tecnologia altamente avançada para resistir à ofensiva dos Anjos, monstruosos seres, cujo ataque já havia sido previsto pela humanidade.

A organização especial paramilitar, denominada NERV, foi incumbida da missão de combater tais ameaças usando mechas gigantes chamados de Evas, que são pilotados por jovens rigorosamente selecionados. Um deles é Shinji Ikari, um tímido adolescente. Na realidade, há mais de dez anos ele foi abandonado pelo pai, Gendo Ikari, atual comandante supremo da NERV. Aos 14 anos, Shinji é chamado por ele para pilotar o incrível EVA-01, a última esperança da humanidade na batalha contra os Anjos. Assim dá-se início a uma aventura inigualável em que ficção científica se mistura aos sentimentos mais complexos e profundos do ser humano.

Bom, agora que você já está minimamente familiarizado com a premissa da obra, podemos começar a falar do que realmente importa aqui, PSICOLOGIA!! (vai ter alguns spoilers daqui pra frente, então siga por conta e risco!!!)

Antes de qualquer coisa, eu não estou tirando essas informações, teorias e quaisquer apontamentos ligados a psicologia do nada, uma pesquisa muito longa foi feita e todo o material foi construído junto, e revisado por psicólogos, com quem debati sobre as possivbilidades para cada personagem.

A EQUIPE MAIS DISFUNCIONAL!

Primeiro vamos definir como que as coisas serão tratadas aqui, primeiro vamos falar do trio de personagens principais E DEPOIS DISSO SOBRE ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES PRA ENTENDER TUDO ISSOAsuka Langley Soryu, a primeira mulher que muita gente aceitaria apanhar, e Rei Ayanami, que bom… a única coisa que eu posso dizer quanto a ela é "ÉDIPO"!!!! Mas daqui a pouco a gente fala um pouco mais dessa parte.

Shinji Ikari

Shinji Ikari é um personagem com o psicológico fortemente abalado, é alguém que tem grande falta de motivação, auto dúvida, autoculpa e um medo excessivo acerca do que o rodeia. O garoto perdeu sua mãe ainda muito jovem, foi abandonado pelo pai e criado por um mentor, só retomando o contato com seu genitor no futuro, quando se torna uma ferramenta útil. Shinji é instrumentalizado pelo que lhe resta de família no mundo, o que causa um desconforto tremendo no garoto em momentos que está na presença do pai (e você aí achando que tinha problemas com os seus né?).

Ele não se sente amado ou querido por ninguém, além de precisar de muitas reafirmações e validações externas, muito disso justamente por conta desse abandono por parte da família. Tudo isso ainda fica pior, quando a gente lembra que Shinji tem só 14 anos, uma idade em que normalmente já temos nossas questões e instabilidades emocionais.

Agora vamos lá, você acha mesmo que um ADOLECENTE cheio de PROBLEMAS EMOCIONAIS, deveria ter o peso de DEFENDER O PLANETA TERRA, pilotando um ROBÔ GIGANTE… Eu acho uma péssima ideia colocar essa responsabilidade em um transtorninho ambulante, mas é exatamente o que o pai do menino faz (eu acho que ele prefere se arriscar nas batalhas do que ficar perto de um cara assim, com um pai desses pra que inimigo né?)

Shinji toma diversas decisões e atitudes no começo da série simplesmente por querer ser aceito, buscando a validação que ele não teve quando pequeno, aceitando se tornar um instrumento, apenas para que pessoas ao seu redor o parabenizasse. É como se o pedido (completamente descabido) que foi feito a ele fosse na realidade uma obrigação, ele se sente na posição de ter que fazer aquilo, enquanto na realidade ele nem gostaria de estar ali. 

A forma como o garoto vai definhando nesse primeiro momento é impressionante e pode ser extremamente incômodo para quem passa, ou já passou por um quadro de depressão, e isso fica mais claro ainda quando sabemos que o criador do anime, Hideaki Anno, teve um quadro complicado de depressão por cerca de 4 anos. 

E eu digo isso não apenas em observação, mas com base no DSM-5 (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders 5), criado pela associação americana de psicologia, que aponta sinais de observação, e o nosso protagonista da vez carimba toda essa cartela de bingo aqui: humor deprimido em grande parte do tempo, diminuição do interesse e/ou prazer em todas, ou quase, atividades diárias, fadiga ou perda de energia, sentimento de inutilidade e culpa excessiva.

E isso pode ocorrer por conta de diversos fatores, entre eles a sequência de eventos negativos, e se teve uma coisa que o coitado do Shinji passou foram eventos negativos e traumas durante a vida, levando ele pra essa espiral descendente.

Por causa disso o garoto é basicamente guiado por toda a sério, por apontamentos, encaminhamentos e ordens expressas dos outros, Shinji não quer em momento algum ter a pressão de decidir algo, e isso pode ser bem observado na sua relação com a próxima personagem que vamos falar, Asuka, pois mesmo tendo diversos problemas internos, assim como ele, a garota de vermelho que toma as rédeas da situação, e expressa mais seus sentimentos (olha a semiótica ai em galera!!), fazendo com que Shinji possa apenas aceitar aquela relação e se pôr de maneira apática em grande parte dela (o que gera sim alguns conflitos entre eles). 

E sério, tudo o que esse garoto precisava era um pouco de atenção (Renato Russo estava certa em Teatro dos Vampiros viu?), tanto que quando Kaworo aparece, dizendo que gosta de Shinji da forma como ele é, sem que o garoto precisasse se adaptar a algo, ou aceitar coisas que não o deixavam confortável, ele realmente tem uma evolução.

Seria tudo perfeito nesse momento, se Kaworo não fosse um anjo, um dos inimigos da humanidade do anime… É isso aí, o menino cheio de trauminhas acabou de ganhar mais um, gostou dessa? Se eu fosse você já ligava pro seu terapeuta e marcava um horário extra pra essa semana.

E é nesse momento que a auto-aversão consome o garoto de forma muito agressiva, e isso só melhora quando, no final do anime, Shinji entende alguns pontos importantes, o primeiro deles é que, apesar de não ser perceptível, todos nós temos nossas próprias batalhas internas, nossos sofrimentos e nossas dores, e que até certo nível isso é normal e importante, a partir disso ele começa a se aceitar melhor, entendendo que sim ele vai errar e tá tudo bem nisso! percebe que se nem ele mesmo se aceita, e gosta de si mesmo, essa ligação não vai acontecer com os outros, ele precisa fazer isso por ele mesmo.

 

Ser imperfeito é o que faz Shinji se amar, ao menos um pouco, e perceber que fugir do que te machuca nem sempre é covardia, às vezes é a sabedoria de ponderar quais lutas podemos ter naquele momento, e no fim de tudo, mesmo que por um caminho um tanto problemático, Shinji entende isso.

Asuka Langley

Bom, agora que falamos do transtorninho 01, vamos falar da transtorninho 02, Asuka Langley, uma verdadeira attention whore com um transtorno psicológico pra chamar de seu. Ela é a verdadeira contraparte do protagonista por aqui, enquanto Shinji passava pelo seus problemas enquanto se apagava do mundo, sendo levado pelas situações e se pondo de forma apática, essa aqui grita, berra esbraveja e quer um holofote só pra ela (e se duvidar ela rouba o do coleguinha também!).

Asuka é uma personagem extremamente confiante, arrogante e até mesmo um tanto prepotente, mas tudo isso só acontece pra preencher algo que ela não teve na infância, o cuidado de outros por ela. Essa postura faz com que, de maneira positiva ou negativa, ela seja (ou pelo menos é o que a querida aqui tenta) o centro das atenções, tudo isso pra compensar a falta de amor parental e os traumas sofridos na infância, e essa forma de agir e se expressar dela é o seu mecanismo de defesa.

Bora lá, tudo começa quando ainda criança, Asuka passa a ser tratada com indiferença pela sua mãe, que havia passado por uma experiência envolvendo o EVA 02, o mesmo que a menina viria a pilotar no futuro. No lugar de dar amor, carinho e atenção para a criança, que agora era completamente negligenciada, as atenções foram todas voltadas a uma boneca, deixando Asuka totalmente perdidinha na situação. 

Após isso, a mãe de Asuka comete suicídio, E A COITADA VÊ TUDO, e por isso, quando cresce, ela afirma odiar seus pais e aparenta ter uma personalidade mais desgarrada e independente, ela quer viver sozinha, do seu jeito, da sua maneira. 

O maior exemplo de como ela carece de atenção, são seus momentos de implicância com Rei (outra que já já vamos falar sobre os transtorninhos também), já que a mesma não revida e passa a ser chamada de boneca constantemente (ta vendo o que a falta de uma mãe presente não faz?), o que deixa Asuka extremamente irritada, afinal de contas, alguém que fica provocando a todo tempo as outras pessoas espera é  que caiam nessa provocação, e quando isso não acontece Asuka realmente fica muito irritada (e é assim que você escapa do bullying, a melhor coisa a se fazer quando os apelidos começam é não ligar pra eles, se você não gostar aí que vão te perturbar mesmo).

Outra coisa interessante sobre ela, e que O MULHER PRA RECLAMAR, mas vamos lá, sabia que segundo uma pesquisa da universidade de Stanford, reclamar encolhe o hipocampo (um pedacinho dessa massa cinzenta inutilizada que você aí chama de cérebro), que é responsável pela resolução de problemas e pensamentos mais complexos, ou seja, essa menina CHATA PRA CAR#$%*, só quer ficar reclamando em vez de olhar pra si e resolver suas próprias questões (tá vendo como o comportamento é meio que oposto ao de Shinji, que apenas se retraia?).

O que quero dizer é, todo esse comportamento da ruivinha só acontece porque ela quer ter controle da sua vida e das coisas em volta dela, pra que assim ela não seja surpreendida pelas situações e pessoas, pra não se sentir fraca e vulnerável, assim como a deixaram quando criança.

Essa vontade de envelhecer e tomar controle das coisas se mostra mais forte ainda em sua relação com Misato, pois ela sim faz o papel de adulto regulador para Asuka, o que obviamente faz esse poço de energia explodir várias vezes, ficando completamente possessa de raiva com isso, e assim ela redireciona isso culpando as pessoas ao redor por qualquer coisa que dê errado, mesmo que às vezes a culpa seja da própria Asuka (é minha querida, assume seus BOs ai por favor).

E assim chegamos no Transtorno de Personalidade Histriônica, que dentre suas principais características que podemos ver na Asuka temos a sua grande emocionalidade e uma necessidade (completamente descompensada) de chamar atenção, muitas vezes se importam fortemente com sua aparência e tem pouca tolerância a frustrações de maneira geral, além disso, Asuka tem pouca capacidade de perceber emoções do outro e por isso, mesmo que ela machuque muito Shinji e Rei com suas atitudes, ela não percebe que faz isso em grande parte do tempo.


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O Psiquiatra Paul Links fala algo que define muito bem o que acontece com Asuka, para ele, pacientes com esse transtorno buscam atenção a todo momento para aliviar o seu desespero interno, o que faz total sentido com a nossa panela de pressão ambulante aqui.

E okay okay, você pode dizer que “poxa, mas ela tem um péssimo temperamento, o máximo que vai acontecer é arrumar algumas discussões e conflitos por causa disso”, e em certo ponto tá bem correto esse pensamento, mas o ponto é que a Asuka não liga, ela só quer esse holofote, essa atenção, é tipo quando você era criança e  seus pais não te davam atenção e você começava a aprontar alguma coisa pra eles verem o que a peste tava fazendo, é assim que o paralelo funciona!

Mas isso tem um problema sério, já que ao longo do anime, esses comportamentos da Asuka, esse “drama” encenado por ela, não passam a surtir tanto efeito, com outros personagens “tolerando” as suas atitudes, revertendo em menos atenção pra garota, o que faz seus momentos de explosão serem maiores ainda com o tempo (ela chega a bater na coitada da Rei cara, tadinha).

E nesse ponto outro problema da personagem surge, a baixa auto-estima (aaaaaaaa então esse showzinho todo até agora era insegurança minha querida?). Quando ela se torna impossibilitada de pilotar o EVA 02, ela se sente completamente inútil e descartável (acho que me identifiquei com ela agora), e por isso ela vestia aquela armadura de garota explosiva, provocante, arrogante, pra não mostrar quem ela era de verdade, porque Asuka odeia essa versão “fraca” de si mesma acima de qualquer coisa. No fim, tudo o que ela queria era ser abraçada, mas sem precisar gritar por isso. 

Asuka tentava se tornar invulnerável, pra não mostrar quem ela era, mas ao fazer isso, afastava de si mesma o que mais queria, por não dar o “voto de confiança” aos outros e mostrar quem ela é de verdade. O que Asuka precisa entender é que ela ja é o suficiente ( e precisou um personagem dizer isso abertamente pra essa tapada entender).

Por último, temos Rei Ayanami, que funciona como uma folha de papel em branco, já que ela é um clone da mãe de Shinji (Édipo corre aqui) e foi criado em laboratório, não tendo se desenvolvido completamente pelo ponto de vista social, assim as suas interações com demais personagens sempre são interessantes, pois quase sempre suas reações são anti naturais ou com distanciamento muito grande, por conta dessa falta de habilidades sociais.

De maneira resumida, o que a gente vê em Rei é o não sentir, que pode ser mais assustador do que sofrer ou ter sentimentos negativos (viu? pode parar de ficar chorando pelo coração partido aí!!). De maneira geral, a palavra de ordem aqui pra ela vai ser solidão (quem aí viu aquele episódio de liga da justiça com o Batman cantando?).

Antes de tudo, como a personagem é um clone, três delas aparecem durante a série, a primeira delas sendo a criança, é a mais imatura, a que se importa menos com os outros e como ela pode afetar eles, e por isso é a mais ignorante, no sentido de não entender como a sociedade a sua volta funciona.


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Rei Ayanami

á a segunda surge logo após a morte da versão criança. Essa aqui é a que mais pessoas lembram, a garota que não entende o que sente, e muito menos o que os outros ao seu redor sentem, não se importando verdadeiramente com eles, a única pessoa que tem uma conexão com ela de verdade é o pai de Shinji, pois ela sabe que surgiu “por sua vontade” e por isso tem que atender aos pedidos e desejos dele (sem perversão você ai, eu to vendo esse seu sorrisinho de quinta série).

Além disso, o único sentimento positivo que ela aceita verdadeiramente vem desse personagem, as frações de amor e afeto que ela tão são todas recebidas dele, e por isso a segunda Rei iria até o final por ele (eu não consigo escrever isso sem imaginar o Freud gritando ÉDIPO no meu ouvido, desculpa cara).

Com essa falta de maiores ligações emocionais, essa Rei experiencia a sensação de vazio, que pode ser bem comum em pessoas com depressão, borderline ou bipolaridade por exemplo, mas o dela não surge por isso, e sim pela sua simples existência, já que a garota é basicamente um ratinho de laboratório. 

Ela tem um objetivo e uma razão de existir desde o dia do seu nascimento, mas com o decorrer dos episódios, outras questões surgem pra ela, fazendo se questionar se a sua jornada inicial sequer é um caminho que Rei precisa percorrer.

E quando isso começa, percebemos que na verdade ela sente sim as coisas, e muito! Mas como não sabe dar nome a essas emoções, não consegue se expressar e por isso tende a colocar tudo isso pra debaixo do tapete. É como se você estivesse gripado, mas não soubesse que é uma gripe, e independente da gravidade, é difícil cuidar de algo que não se entende (inclusive, se quiser aprender mais sobre o corpo humano, tem outro material parecido com esse aqui, mas sobre o nosso corpitchu, clica aqui e dá uma olhada lá também!).

Okay, depois de ler isso agora acho que fica mais fácil entender o vazio que existe em Rei, certo? Imagina você do nada ser inserido em um contexto social extremamente complicado sem a experiência social que vamos adquirindo com o passar dos anos, e precisamos lidar com esse turbilhão de coisas sem entender o que está se passando, e sem ao menos entender se tudo isso que eu estou sentindo é realmente meu ou se isso foi implantado no meu cérebro (eita como vem a crise existencial aí). No mínimo complicado né? 

A mudança para Rei se inicia graças a Shinji (não é que o depressivo acerta às vezes?), quando ele chora por encontra-la viva, e nesse momento é que Rei percebe que para além do seu propósito, ela é importante para alguém, que ela é insubstituível para aquela pessoa, o que entra em conflito com toda a idéia da, literal, criação que ela teve. 

Rei passa a notar mais suas emoções desde que Shinji mostra sua importância para ele, transparecendo que está começando a notar padrões de comportamento de outros personagens, como Shinji passar uma tarde inquieto pois queria perguntar algo a ela, ou sentir-se envergonhada quando o garoto diz que ela seria uma ótima mãe (Freud gritando WAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH neste momento), ela está se compreendendo melhor e também o mundo ao seu redor. 

O ápice do desenvolvimento da Rei 02 é quando ela vê seu crush, quero dizer, filho, mas que caramba, quero dizer colega de trabalho/amigo, na cama do hospital e afirma estar feliz por ele estar se recuperando, o que deixa todo mundo surpreso, a gente que tá assistindo e o próprio Shinji também, a garota que nasceu já com um propósito de vida, que não entendia os sentimentos dos outros e nem os seus, deixava de ser apática e externava o que sentia, completamente diferente de alguns episódios atrás! 

Só uma pequena explicação aqui, a apatia nesse caso é a falta de processos mentais que te levam a tomar ações, uma emoção que vai fazer você agir de uma maneira para que uma outra emoção surja ali na frente. Quando dizemos que Rei tem apatia grave é dessa perspectiva, na qual ela não se interessa ou se conecta minimamente com as coisas ao seu redor, ou com a própria vida, para que tenha motivação pra tomar outras ações, se tornando assim apática. 

Além disso, no início da animação, a personagem tinha traços do Transtorno de Personalidade Esquizóide, que mostra um padrão de comportamento em relações sociais ligado a indiferença, normalmente com limitações nas suas experiências e expressões emocionais (exatamente o tipo de coisa que um clone teria, não é mesmo?). 

A princípio, ela não vontade, prazer ou se quer vê sentido em criar conexões sociais, sendo que características comuns são: não aproveitar de relacionamentos próximos, ser distante e desapegado, evita atividades sociais com muito contato com outras pessoas, pouco ou nenhum interesse em relações sexuais (insira uma piada sobre Freud e Édipo aqui), indiferença a elogios ou criticas, frieza emocional, desprendimento ou afeto reduzido, dificuldade de auto expressão, pouca mudança observavel de humor, prazer em poucas ou nenhuma atividade e consequentemente poucos objetivos e motivações (tudo isso aqui ta no DSM-5, que eu já falei la em cima). Lembrando, que isso reflete apenas a personagem no começo de sua jornada!

Chegamos agora na terceira versão da Rei, que é basicamente uma junção das outras duas, que tem as memórias delas e por isso tem conflitos internos bem estabelecidos já, ao mesmo tempo que precisa aprender sobre os seus sentimentos, pois de fato ela nãos os viveu, apenas se lembra deles porque “outras Rei’s” viveram eles. 

Ela encontra seus significado de vida finalmente, e com isso chega a salvar o protagonista, entretanto, em certos momentos a personagem chora por se ver sozinha no mundo, ao mesmo tempo que isso pode parecer assustador, é ótimo pois revela que existia um propósito para viver, apesar dos sentimentos negativos, ela não queria deixar de esta aqui.

O maior valor da Rei na animação é nos ensinar sobre o valor das emoções, e sobre como nós encaramos elas, mesmo que sejam ruins, senti-las é MUITO importante, e processá-las também, porque se isso não acontecer, se não sentimos tudo de bom e ruim que a vida pode proporcionar, o que nos resta é a solidão, o grande e vasto vazio.

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ENTENDA COMO O PSICANALISTA AUSTRÍACO INFLUENCIOU EVANGELION

ASUKA E O ID 

É chegou sua hora, você aí mesmo, que tava ansioso pra saber o que um psiquiatra austriaco que dopava seus pacientes tinha haver com Evangelion, essa parte aqui é pra você!!! Sigmund Freud (se lê FRÓID viu animalzinho?) já foi citado anteriormente aqui, mas é nesse momento que o pai da psicanálise realmente vai mostrar seu impacto na obra!!

Vamos começar com o Id e fazer a ligação dele com a nossa ruivinha Asuka. Primeiro de tudo, segundo o livro Vocabulário da Psicanálise, de Lablanche e Pontalis (estou usando a segunda versão da tradução, com suas devidas revisões!), a definição do Id é a seguinte: O id constitui o pólo pulsional da personalidade. Os seus conteúdos, expressão psíquica das pulsões, são inconscientes, por um lado hereditários e inatos e, por outro, recalcados e adquiridos.

Você não deve ter entendido nada, já que deve estar acostumado com aquelas scans de manga com tradução de fã cheio de adaptações duvidosas (eu to olhando pra você mesmo Chainsaw Man).

Usando uma fala do próprio Freud, para ele o id era “um caos”, sendo responsável pelas novas vontades e anseios, muitas vezes podendo até mesmo ser personificado em uma criança, que apenas tem suas vontades e quer que elas sejam atendidas (igual aquele seu primo riquinho e mimado). O id ta ali pra te mover em direção ao que você quer acima de qualquer coisa e se depender apenas dele você vai viver em razão dos seus desejos no sentido absoluto disso (já viu clube da luta? se sim, você vira o Tyler Durden). 

Asuka representa, em parte da série, essa figura, que busca por seus desejos mais profundos e sinceros, mas muitas vezes primitivos também. Além da maneira como ela se expressa, que pode ser encarada como uma maneira de fazer suas vontades valerem e serem atendidas, ela faz as provocações ao Shinji (que representa o Ego, mas a gente já chega lá), despertando no garoto o confronto, seja pra bater de frente com Asuka, discordando do que ela está fazendo, ou para acender uma chama que vai levá-lo a concretizar seus próprios DESEJOS e VONTADES, posto assim faz sentido a posição dela como Id, certo?

 

Check nesse ponto, vamos para o próximo! (eu poderia falar ainda sobre sentimentos como luxúria e tudo mais, que até se encaixam com a Asuka, mas isso não é tão importante pra entender a correlação desses personagens aqui).

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rEI E O SUPEREGO

Superego nesse momento é representado pela figura da Rei, e essa pode ser a parte mais fraca e complicada da teoria, mas ainda assim acho que faz bastante sentido!

Por definição, segundo o mesmo livro que falei lá em cima, Freud  diz que seu papel é assimilável ao de um juiz ou de um censor relativamente ao ego (que é representado pela figura do Shinji, e eu já vou explicar). Freud vê na consciência moral, na auto-observação, na formação de ideias, funções do Superego.

Ele ainda pode ser definido como herdeiro do complexo de Édipo (EU DISSE QUE ERA ESTRANHO ESSA COISA DE CLONAR A MÃE DO MENINO), constitui-se por interiorização das exigências e das interdições parentais.

Traduzindo esse monte de coisa, o Superego é o juiz, que vai olhar pra quantidade absurda de coisas que o Id (Asuka) quer fazer e dizer calma lá meu parceiro, não vai dá não, olha a quantidade de caos que você quer criar? Pode tirar tudo isso aí e vamos seguir o que tá nessa cartilha pré estabelecida que eu vou te entregar! 

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segundo Freud, o complexo de Édipo tende a demorar mais tempo para se dissolver em mulheres, além de se mostrar de maneira um pouco diferente do que ocorre com os homens.“...o complexo de castração, em vez de destruir o complexo de Édipo, prepara o seu aparecimento (...). A menina permanece no complexo durante um tempo indeterminado e só tardiamente procede a sua demolição, e de forma incompleta. O superego, cuja formação é, nestas condições, comprometida, não pode atingir o poder nem a independência que, do ponto de vista cultural, lhe são necessários”.​

 

Além da renúncia aos desejos, da contraposição ao Id, o superego é construído e fortalecido através do desenvolvimento sociocultural, se tornando assim mais potente conforme se desenvolve, o que também se encaixa perfeitamente com Rei, já que quanto mais ela entende o mundo que a cerca, mais incisiva ela se torna nas suas ações contra Asuka (às vezes até mesmo a ignorando, o que para Asuka é um ato muito maior do que se Rei tivesse tomado qualquer ação contra ela).

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sHINJI E O EGO

Por fim, Shinji é a balança entre as duas, e funciona como um regulador, no sentido de tentar adaptar Rei a Asuka e vice-versa. Antes de começar a falar do nosso depressivo favorito, vamos a algumas definições do que é o ego.

Para o pai da psicanálise, podemos classificar o ego sob quatro óticas diferentes, mas a que simboliza Shinji de forma mais categórica é a do tópico, em que ele está em uma relação de dependência com as exigências do  Id (as vontades de Asuka e a forma agressiva e expansiva que ela se comporta), enquanto equilibra isso com as normativas e taxações do superego (que pode ser vista na Rei em seu início, que só via a missão e o objetivo final de tudo, seguindo as ordens do pai de Shinji de forma bem direta, já que para ela, naquele momento, era tudo o que importava). 

Shinji, para além dos seus problemas emocionais, de seus conflitos, cheio de mecanismos de defesa criados pelos estímulos desagradáveis ao seu redor, levando o garoto a uma enorme angústia e depressão, ainda tinha que equilibrar essas duas figuras diametralmente diferentes (que representavam isso de maneira visual, ou vai dizer que nunca reparou que os cabelos e olhos das duas tem cores espelhadas?).​

 

O garoto ao mesmo tempo que precisa entender e aceitar que em certos momentos a agressividade, expansividade e até mesmo impulsos sexuais, ele tem o papel de filtrar tudo isso, pra manter certo controle sobre a situação, o que leva a momentos de repreensão de Shinji com Asuka. ​Enquanto isso, ele não pode se deixar ser controlado pela instrumentalização de si mesmo, seguindo cegamente o que dizia Rei enquanto não entendia suas emoções, e apenas executava as ordens do pai de Shinji. O superego também precisa ser aceito e podado as vezes, tudo bem que certas regras morais e socioculturais precisam ser seguidas e elas existem muitas vezes por motivos benéficos, mas Shinji não pode se deixar ser levado e encaixado forçadamente em tudo, ele precisa buscar seu próprio caminho, sua própria liberdade e aceitação!

​É legal lembrar que além dessa relação entre os três protagonistas e os escritos freudianos, é possível ver um paralelo parecido com um supercomputador que aparece em certo ponto do anime, onde também é possível fazer uma analogia entre Id, Ego e Superego com as três personas que existem dentro dela, sendo a da Engenheira, da Mulher e da Mãe. Sendo a primeira delas, a Engenheira, o Ego, que serve de balança entre as outras duas (igual nosso querido depressivo), a Mulher simboliza as vontades e desejos, assim como Asuka, sendo o Id, e a Mãe, com seu instinto protetor que tenta blindar o filho do mundo, assim como Rei faz, tentando anular os sentimentos e executar sua missão até o final.

E aí, depois de ler tudo isso você pode dizer pra sua mãe que você não está procrastinando ou jogando seu tempo no lixo assistindo desenho mesmo depois de velho, agora pode dizer pra ela que na verdade tudo isso é uma pesquisa científica a fundo sobre qualquer coisa que seja. 

Falando um pouco mais sério agora (só um pouco), muitos animes e mangás por aí tem mensagens e ensinamentos extremamente valiosos para nossa vida e desenvolvimento, mas por vezes isso está diluído de forma tão bem feita no enredo que se amarra a ele e muitas vezes não notamos (principalmente quando somos mais novos), então expor isso de forma mais clara e refletir sobre pode transformar um hobby e momento de lazer também em um momento de evolução pessoal! Bom, é isso, ficamos por aqui e até a próxima rapeize!!! (façam terapia!)

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BOM, ESSE É O MEU TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO.

OBRIGADO POR ME ACOMPANHAR ATÉ AQUI! 

qUEM SABE VOCÊ NÃO POSSA VER MAIS DO MEU TRABALHO NO FUTURO!

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